quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sentidos do Império- "O Governo dos povos"

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – A produção atual da historiografia brasileira vem revendo e, em muitos aspectos, revalorizando o passado colonial. Alguns historiadores se centram nas dimensões administrativas e políticas enquanto outros revelam aspectos culturais do período.

A análise do Brasil Colônia traz em comum a necessidade de se reavaliar o assunto, mas o tema abarca também visões, em alguns casos, tão distintas quanto discordantes. As conclusões são do livro O governo dos povos: relações de poder no mundo ibérico da Época Moderna, que acaba de ser lançado.

A obra reúne artigos de autores de várias universidades brasileiras e é resultado do simpósio com o tema “Formas de Governar”, realizado em Paraty em 2005. O trabalho se refere ao primeiro ano do Projeto Temático “Dimensões do Império Português”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Laura de Mello e Souza, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP).

Nesse primeiro simpósio o objetivo foi convidar pesquisadores com posições não apenas semelhantes mas também divergentes, de diferentes universidades brasileiras, para discutir o problema do Império português no Atlântico Sul”, disse Laura, uma das organizadoras do livro, à Agência FAPESP – as outras organizadoras são Júnia Ferreira Furtado, professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais, e Maria Fernanda Bicalho, professora adjunta da Universidade Federal Fluminense.

Posteriormente, foram realizados outros três simpósios. Em 2006, o tema foi “Escrita do Império”. No ano seguinte, “Religião e Evangelização”. O quarto simpósio, em 2008, abordou o tema “Economia e Sociedade". Para cada tema, será publicado um livro.

O primeiro volume, que também recebeu apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações, reúne diferentes tendências e pontos de vista. Segundo Laura, não há unicidade nem ortodoxia, mas uma multiplicidade de temas tratados sobre o Império português.

Houve uma revivência dos estudos sobre a administração no período colonial. O processo de digitalização dos documentos de fontes administrativas referentes ao Império português no Atlântico Sul tem permitido que um grande número de pesquisadores tenha acesso a esses documentos antigos”, explicou.

Segundo ela, durante muito tempo o estudo da administração portuguesa no Brasil colonial foi relegado a um segundo plano pouco honroso. “Esse aspecto era visto de maneira mais conservadora, mais voltada para a exaltação da administração portuguesa, do talento português de governar.”

Os novos pesquisadores têm contribuido com uma abordagem diferente. “A visão dessa nova geração de estudiosos começou a ir em outro sentido. Eu, particularmente, estudei mais a cultura política e as trajetórias de governadores, mas não me preocupei com o funcionamento das instituições”, disse.

Dimensões do Império

O livro é composto de seis capítulos (Historiografia, Representações, Crenças e Saberes, Localismos, Trajetórias e Poderes do Centro). As análises incorporam novas perspectivas e revisam criticamente aquelas que marcaram uma tradição historiográfica centrada principalmente nos “mecanismos da dominação colonial”.

É na primeira parte que se concentram, principalmente, as posições mais distintas. Ao discutir a feição do Estado moderno português – se é muito ou pouco centralizador – ou tratar das relações entre Reino e suas possessões como império, império colonial ou português ou antigo sistema colonial, as vozes não são uníssonas.

No artigo Política e administração colonial: problemas e perspectivas, Laura relativiza o “alcance explicativo” da noção de antigo regime no período colonial. Ela aponta características do antigo regime que estão presentes na sociedade europeia e outras inexistentes, como a dependência e a escravidão.

Por outro lado, não acho que existiu uma ‘nobreza’ do ponto de vista sociológico. Nesse ponto, há divergência com outros estudiosos. Há um simulacro, mas as condições sociológicas e históricas que possibilitaram a formação da nobreza no império nem sempre estão presentes na situação colonial”, apontou.

A preocupação não é com as noções, mas com as situações históricas. “As situações históricas são muito mais ricas. Elas trazem algo de novo, portanto muito diferente daquilo que existia no antigo regime. No fundo, postulo uma posição que valorize o dado empírico e a especificidade histórica”, disse.

No livro, tentamos ver até que ponto é possível compatibilizar uma perspectiva que valorize mais a ideia de império, como sendo uma totalidade que amarra, com uma perspectiva que agregue a noção do antigo sistema colonial como uma das expressões do antigo regime”, destacou.

A professora da USP explica que O governo dos povos é um braço do Projeto Temático coordenado por ela e destaca o trabalho de digitalização de mapas antigos realizado pelo Laboratório de Estudos de Cartografia Histórica (Lech) e pelo Centro de Documentação do Atlântico (Cenda), ambos abrigados na USP.

O projeto trabalha com a formação do imaginário imperial português, a partir dos mapas. De acordo com Laura, o grupo que digitaliza os mapas “costuram as atividades das quatro vertentes do Temático”.

Eles são um dos produtos mais importantes do projeto porque são laboratórios que vão continuar no site da universidade, sendo constantemente realimentados”, disse, ao destacar que o projeto reúne pesquisadores da USP, da Universidade Estadual de Campinas, da Universidade Federal de São Paulo e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.

É um projeto que se encerrará em abril de 2010 com grande sucesso, com projeção nacional e internacional. Contribuiu muito na formação de pesquisadores, além de várias teses concluídas, quatro livros e dois laboratórios”, salientou.

O governo dos povos: relações de poder no mundo ibérico da Época Moderna
Organizadores: Laura de Mello e Souza, Júnia Ferreira Furtado e Maria Fernanda Bicalho
Ano: 2009
Páginas: 560
Preço: R$ 65
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Os elementos, de Euclides, é lançado

Agência FAPESP – O tratado matemático Os elementos, escrito por Euclides por volta do ano 300 a.C., é considerado um dos livros mais importantes do mundo ocidental. “Se quiserdes conhecer o que é a matemática, basta olhardes Os elementos de Euclides”, disse o filósofo alemão Immanuel Kant.

No entanto, quem desejasse ler a obra em português precisava se contentar com uma versão incompleta do século 18, feita a partir da edição latina de Commandino, baseada em manuscritos que mesclavam o texto original com comentários e acréscimos de Téon de Alexandria.

Agora, a Editora Unesp lança a primeira tradução moderna e completa para o português, feita diretamente do grego por Irineu Bicudo, preservando o espírito conciso do texto sem que se perca a sua legibilidade. “Se com Homero a língua grega alcançou a perfeição, atinge com Euclides a precisão”, disse Bicudo na introdução.

Os elementos oferecem 465 proposições, além de definições, postulados e axiomas distribuídos em 13 livros, sistematizando e dando sequência lógica para o conhecimento da matemática grega.
Os seis primeiros livros dão conta da geometria plana; os três seguintes, da teoria dos números; o décimo livro, o mais complexo, estuda uma classificação de incomensuráveis/irracionais; e os três últimos abordam a geometria no espaço.

Bicudo é professor titular aposentado do Instituto de Geociências e Ciências Exatas, no campus de Rio Claro da Unesp, do qual foi vice-diretor e diretor. Na década de 1970 passou três anos como pesquisador visitante na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, com apoio de Bolsa de Pós-doutorado da FAPESP. É professor de pós-graduação em Educação Matemática da Unesp-Rio Claro.

Título: Os elementos
Autor: Euclides
Tradutor: Irineu Bicudo
Páginas: 593
Preço: R$ 81
Mais informações e vendas: www.editoraunesp.com.br ou (11) 3242-7171.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Malba Tahan (Júlio César de Melo e Sousa)

Júlio César de Melo e Sousa (Rio de Janeiro, 6 de maio de 1895 — Recife, 18 de junho de 1974), mais conhecido pelo heterônimo de Malba Tahan (Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan), foi um escritor e matemático brasileiro. Através de seus romances foi um dos maiores divulgadores da matemática no Brasil.

Ele é famoso no Brasil e no exterior por seus livros de recreação matemática e fábulas e lendas passadas no Oriente, muitas delas publicadas sob o heterônimo/pseudônimo de Malba Tahan.





Seu livro mais conhecido, O Homem que Calculava, é uma coleção de problemas e curiosidades matemáticas apresentada sob a forma de narrativa das aventuras de um calculista persa à maneira dos contos de Mil e Uma Noites. Monteiro Lobato classificou-a como: “... obra que ficará a salvo das vassouradas do Tempo como a melhor expressão do binômio ‘ciência-imaginação.’” Júlio César, como professor de matemática, destacou-se por ser um acerbo crítico das estruturas ultrapassadas de ensino. “O professor de Matemática em geral é um sádico. — Denunciava ele. — Ele sente prazer em complicar tudo.” Com concepções muito a frente de seu tempo, somente nos dias de hoje Júlio César começa a ter o reconhecimento de sua importância como educador. Em 2004 foi fundado em Queluz -- terra onde o escritor passou sua infância -- o Instituto Malba Tahan, com o objetivo de fomentar, resgatar e preservar a memória e o legado de Júlio César. Em homenagem a Malba Tahan, o dia de seu nascimento – 6 de maio – foi decretado Dia da Matemática pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Juventude





Júlio César nasceu na cidade do Rio de Janeiro, mas viveu quase toda a infância na cidade paulista de Queluz. Seu pai João de Deus de Melo e Sousa e sua mãe Carolina Carlos de Melo e Sousa tinham uma renda familiar apenas suficiente para criar os oito filhos do casal. Quando criança, já dava mostras de sua personalidade original e imaginativa. Gostava de criar sapos (chegou a ter 50 deles no quintal de sua casa) e já escrevia histórias com personagens de nomes absurdos como Mardukbarian, Protocholóski ou Orônsio. Em 1905, retornou ao Rio de Janeiro para estudar. Cursou o Colégio Militar e o Colégio Pedro II. A partir de 1913, passou a freqüentar o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica.

A carreira de escritor


Em 1918, Júlio César passou a colaborar no jornal O Imparcial, onde publicou seus primeiros contos com o pseudônimo R. S. Slade. Nos anos seguintes, o jovem escritor estudou a fundo todos os aspectos da cultura árabe e da oriental. Em 1925, propôs a Irineu Marinho, dono do jornal carioca A Noite, uma série de “contos de mil e uma noites”. Surgia aí o escritor fictício Malba Tahan, que assinava os contos que foram publicados com comentários do igualmente fictício Prof. Breno de Alencar Bianco. Seu pseudônimo tornou-se tão famoso que o então Presidente Getúlio Vargas concedeu uma permissão para que o nome aparecesse estampado em sua carteira de identidade. Até o fim da vida, Júlio César escreveu e publicou livros de ficção, recreação e curiosidades matemáticas, didáticos e sobre educação, com seu nome verdadeiro ou com o ilustre pseudônimo.

A carreira de professor

Paralelamente à carreira de escritor, Júlio César dedicou-se ao magistério. Graduou-se como engenheiro civil na Escola Politécnica e como professor na Escola Normal. Deu aulas no Colégio Pedro II e na Escola Normal, lecionando diversas matérias como história, geografia e física, até se fixar no ensino de matemática. Ensinou também no Instituto de Educação e na Escola Nacional de Educação. Além das aulas, Júlio César proferiu mais de 2000 palestras por todo o Brasil e em algumas localidades do exterior. Ficou célebre por sua técnica de contação de histórias e por sua atuação inovadora como professor. Suas aulas eram agitadas e interessantes, sempre repletas de curiosidades que atraiam a atenção dos estudantes.

Outras atividades

Júlio César foi um enérgico militante pela causa dos hanseníacos. Por mais de 10 anos editou a revista Damião, que combatia o preconceito e apoiava a humanização do tratamento e a reincorporação dos ex-enfermos à vida social. Deixou, em seu testamento, uma mensagem de apoio aos hanseníacos para ser lida em seu funeral.

Falecimento

Júlio César faleceu em 18 de junho de 1974 de ataque cardíaco em seu quarto de hotel, após uma palestra proferida no Recife. Deixou uma série de instruções para seu sepultamento: além da mensagem que devia ser lida, exigiu caixão de terceira classe, flores anônimas, nada de coroas, nada de luto nem discursos.


Biografia de Malba Tahan

Ao criar seu pseudônimo, Júlio César criou também um personagem: Malba Tahan. Este escritor, cujo nome completo seria Ali Yezid Izz-Eddin Ibn Salim Hank Malba Tahan, teria nascido na aldeia de Muzalit, próximo a Meca, a 6 de maio de 1885. Teria feito seus estudos no Cairo (Egito) e Istambul (Turquia). Após a morte de seu pai, teria recebido vultosa herança e viajado pela China, Japão, Rússia e Índia, onde teria observado e aprendido os costumes e lendas desses povos. Teria estado, por um tempo, vivendo no Brasil. Teria morrido em batalha em 1921 na Arábia Central, lutando pela liberdade de uma minoria local Seus livros teriam sido escritos originalmente em árabe e traduzidos para o português pelo também fictício Professor Breno Alencar Bianco.

Obra


Júlio César escreveu ao longo de sua vida cerca de 120 livros de matemática recreativa, didática da matemática, história da matemática e ficção infanto-juvenil, tendo publicado com seu nome verdadeiro ou sob pseudônimo. Abaixo, uma lista de seus títulos mais relevantes:

Contos de Malba Tahan (contos)
Amor de Beduíno (contos)
Lendas do Deserto (contos)
Lendas do Oásis (contos)
Lendas do Céu e da Terra (contos)
Maktub! (contos)
Minha Vida Querida (contos)
O Homem que Calculava (romance)
Matemática Divertida e Delirante (recreação matemática)
A Arte de Ler e Contar Histórias (educação)
Aventuras do Rei Baribê (romance)
A Sombra do Arco-Íris (romance)
A Caixa do Futuro (romance)
O Céu de Allah (contos)
Lendas do Povo de Deus (contos)
A Estrêla dos Reis Magos (contos)
Mil Histórias Sem Fim (contos)
Matemática Divertida e Curiosa (recreação matemática)
Novas Lendas Orientais (contos)
Salim, o Mágico (romance)
Diabruras da Matemática (recreação matemática)


Fonte: Wikipedia


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