quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Retratos da esquerda

 

Agência FAPESP

Retratos da esquerda

Livros analisam o movimento esquerdista brasileiro ao longo do século 20 (rep.UH/Arq.Estado)

Por Fabio Reynol

A trajetória do movimento esquerdista brasileiro no século 20 é o tema de dois livros do sociólogo Marcelo Ridenti, professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH-Unicamp), lançados pela Editora da Unesp.

Brasilidade revolucionária foi em boa parte composto a partir de pesquisas feitas no âmbito do Projeto Temático FAPESP “Formação do campo intelectual e da indústria cultural no Brasil contemporâneo”, coordenado pelo professor Sérgio Miceli, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), e do qual Ridenti é um dos pesquisadores principais.

O fantasma da revolução brasileira é uma reedição ampliada do livro lançado em 1993 a partir da pesquisa de doutorado de Ridenti, realizada na USP e que contou com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.

O foco no movimento esquerdista nas décadas de 1960 e 1970 no Brasil foi ampliado em Brasilidade revolucionária, no qual procuro analisar esse tema em outros momentos do século 20”, disse o autor à Agência FAPESP.

No novo livro, o autor conta como se iniciou a formação, durante a República Velha, de setores rebeldes dentro da intelectualidade brasileira, que deram origem aos movimentos de esquerda. Esses grupos se inspiravam em diversas correntes gerando ideias de cunho positivista, anarquista, tenentista e comunista, muitas das quais se misturaram no início do século 20.

Mostro isso ao analisar a trajetória do intelectual Everardo Dias durante a República Velha. Dentre os frutos dessa mistura de correntes de pensamento está a criação do Partido Comunista”, disse Ridenti.

O segundo capítulo é dedicado ao Partido Comunista e à relação entre artistas e comunistas no período que se seguiu da Segunda Guerra Mundial até o fim dos anos 1950, marcado pelo comunismo stalinista.

De acordo com Ridenti, apesar do autoritarismo stalinista, a atuação do partido auxiliou na organização da classe artística brasileira no fim da primeira metade do século 20 e apresentou uma atuação cultural marcante no cinema, no teatro, na literatura, na imprensa, na arquitetura e nas artes plásticas.

O Partido Comunista também se revelou, de acordo com a pesquisa, um meio para intelectuais e artistas conquistarem projeção internacional. “Viagens para conhecer intelectuais e ter um trabalho publicado no exterior eram raras na época, mas facilitadas para quem fazia parte da rede do partido”, disse.

Paralelos entre manifestações artísticas e o pensamento de esquerda também são retratados no livro. A questão da terra no cinema e na canção é o tema de um capítulo no qual o autor analisa filmes e produções musicais de cunho esquerdista.

Revolução frustrada

Na reedição da obra O fantasma da revolução brasileira, Ridenti aproveitou para ampliar e atualizar a bibliografia com produções desde 1993. Essa atualização se transformou no posfácio da obra, a qual analisa as raízes sociais dos grupos armados de esquerda entre os anos de 1964 e 1974.

Para produzir a tese de doutorado que originou o livro, Ridenti se baseou em 35 entrevistas com ex-militantes e em estatísticas levantadas pelo projeto “Brasil: Nunca Mais”. Para o autor, o fantasma de uma revolução derrotada repercutiu na sociedade da época e ainda mantém resquícios na matriz cultural contemporânea do Brasil, destacadamente na música, teatro, cinema e literatura.

O livro retrata a influência da intelectualidade nos movimentos estudantil, feminino, operário, camponês e militar e também discorre sobre como a ditadura militar interferiu no desenvolvimento cultural e político do país.

Ridenti defende a ideia de que os grupos armados de esquerda foram perdendo seu enraizamento social tanto pela ação repressiva da ditadura como por suas próprias ações.

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