sexta-feira, 9 de abril de 2010

Claro e escuro: Borges, mais uma vez

Continuo a ler as conversas entre o escritor Jorge Luis Borges e o jornalista Osvaldo Ferrari, desta vez no volume Sobre os Sonhos e Outros Diálogos.

Como sempre, vários momentos chamam a atenção, mas alguns são mais curiosos que outros.

Como este em que Borges fala sobre o romance Moby Dick e sobre como Herman Melville transmite o horror através da cor branca, através de um selvagem e supostamente sanguinário animal albino.

Porque sempre se associa a ideia do terror às trevas, à negrura, e depois ao vermelho, ao sangue. E ele viu que a cor branca – que para a vista seria a ausência de toda cor – também pode ser terrível. Agora, ele pode ter encontrado essa ideia. Por que não encontrar sugestões em um livro, em uma leitura, da mesma forma que em qualquer outra coisa, uma vez que uma leitura é algo tão vívido quanto outra experiência qualquer? Eu acredito que ele encontrou essa idéia no Relato de Arthur Gordon Pym, de Poe. Porque o tema das últimas páginas desse relato, a parte que começa com a água das ilhas, essa água mágica, essa água frisada que pode se dividir segundo as listas, bom, nisso no final, há o horror pelo branco. E ali isso se explica por aquele país da Antártida que alguma vez foi invadido por gigantes brancos. A cor branca é terrível; isso vai sendo insinuado nas últimas páginas. Pym afirma claramente que as coisas brancas são terríveis para essa gente. E Melville aproveitou a ideia para Moby Dick (“aproveitou” é um apelativo pejorativo que eu lamento ter usado). Enfim, isso é o que acontece. Além disso, há um capítulo especialmente interessante chamado “The whiteness of the wale” (a brancura da baleia), e ali ele se estende com muita eloquência, uma eloquência que agora eu não posso repetir, sobre o branco como algo terrível.

Borges, então, aproveita para analisar a etimologia de algumas palavras que designam as cores em diferentes idiomas:

Bom, como eu disse branco, e como eu gosto das etimologias, poderia lembrar, não é um fato muito divulgado, que no inglês temos a palavra black, que significa preto, e em espanho a palavra blanco. E depois, no francês temos blanc, no português branco, no italiano bianco. E essas palavras tem a mesma raiz, porque no inglês – acho que a palavra saxônica deu origem a duas palavras: bleak, que significa descolorido (diz-se, por exemplo, In a bleak mood, quando a gente está não descolorido, mas melancólico, abúlico), e a outra black, preto. E ambas as palavras – black em inglês e blanco em espanhol – tem a mesma raiz. Tem a mesma raiz porque, no início, não significava preto, mas sem cor. De maneira que no inglês a idéia de algo sem cor foi passando para o lado da sombra: black significa preto. Por outro lado, nas línguas romances, essa palavra passou para o lado da luz, para o lado da claridade (…)

Fonte: http://livroseafins.com/

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