segunda-feira, 28 de junho de 2010

Arte de vestir personagens

        Agência FAPESP

Arte de vestir personagens

Livro analisa evolução do teatro ocidental no século 20 a partir do trabalho de criação de figurinos de sete encenadores: Stanislavski, Brecht, Artaud, Appia, Craig, Reinhardt e Ariane Mnouchkine (reprodução)

Por Alex Sander Alcântara

Durante séculos os figurinos teatrais foram utilizados como adereços e apresentavam pouca adequação à dramaturgia. Os encenadores se contentavam com figurinos belos e vazios que, em muitos casos, mantinham pouca relação com as personagens ou com o ambiente cênico.

Até meados do século 19, ir ao teatro era muito mais um encontro social do que uma atividade artístico-cultural. Mas, pouco a pouco, esse cenário se transformou e imprimiu uma feição moderna ao teatro ocidental, principalmente quando se analisam as formas de conceber os figurinos.

A evolução histórica do teatro ocidental com foco no figurino foi cuidadosamente analisada no livro Figurino Teatral e as renovações do século XX, de Fausto Viana, que acaba de ser lançado, apresentando um panorama da evolução histórica do teatro ocidental a partir do trabalho de criação de figurinos de sete grandes encenadores.

A obra revela a importância dos trajes no desenvolvimento da arte de atuar e como eles se tornaram um componente importante na busca por um teatro moderno, de acordo com Viana, professor do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).

Os encenadores analisados tinham qualidade, nível de pesquisa avançado, perseverança e acima de tudo amor pela arte. Uma das principais características em comum entre eles é a busca pela integração de todos os elementos que integram o espetáculo”, disse à Agência FAPESP. O livro teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.

O trabalho é resultado da tese de doutorado de Viana, com bolsa da Fundação, intitulada “O figurino das renovações cênicas do século 20: um estudo de sete encenadores”, defendida em 2004 com orientação de Ingrid Dormien Koudela, professora do Departamento de Artes Cênicas da ECA/USP.

Em comum entre os encenadores estava a urgência pela mudança. O primeiro entre os pesquisados foi o suíço Adolphe Appia (1862-1928), com notável influência entre os diretores que vieram em seguida.

Tudo que soava falso desagradava Appia, contou Viana. “Ele criticava os excessos nos figurinos e nos cenários e propunha um equilíbrio. Cumpriu grande parte da renovação do teatro com seus projetos de cenários. No entanto, temos que reconhecer que Appia era acima de tudo um teórico”, disse.

Quem levou ao palco as teorizações de Appia foi o ator e diretor inglês Edward Gordon Craig (1872-1966), que tentou romper com a relação estática entre palco e plateia e defendeu a universalidade e a simplicidade dos figurinos como força dramática.

A proposta dos dois é muito próxima, mas enquanto Appia propunha, Craig executava. O inglês mantinha uma linha de trabalho que tinha por objetivo final criar uma unidade entre todos os elementos do espetáculo. A elaboração dos seus trajes seguia o mesmo modelo. A busca pela universalidade na encenação passava pela universalidade do figurino”, explicou.

O equilíbrio entre a proposta da peça teatral e a recepção do espectador foi o que marcou a produção em teatro do ator e diretor austríaco Max Reinhardt (1873-1944), também cineasta. Mas, segundo Viana, mesmo diante de uma produção muito grande – cerca de 250 peças como diretor, totalizando cerca de 2 mil produções como produtor e supervisor –, Reinhardt não foi devidamente reconhecido posteriormente.

Apesar de ter feito um manifesto teórico, Reinhardt escreveu pouco, ou seja, não formalizou a sua busca ou metodologia de forma que pudesse ser investigada mais profundamente, como Stanislavski e Brecht fizeram, por exemplo”, disse Viana.

O professor da ECA destaca que Reinhardt é o que se poderia chamar de “Disney do teatro”. “A comparação é inevitável quando se pensa nas duas atividades: diversão para a família, em bons ambientes, que não causem constrangimentos. Essa era sua visão”, contou.

O austríaco conseguiu chegar a uma medida ideal entre o que o ator pretendia e o público desejava. “Por isso, aumentou o status do figurinista e o deixou em igualdade com os demais profissionais envolvidos na produção teatral, como o iluminador, o cenógrafo ou mesmo o ator”, disse.

Teatralidade do traje

Outro nome destacado no livro é o do teatrólogo, diretor, ator e poeta francês Antonin Artaud (1896-1948), que admirava a pintura como inspiração e foi pioneiro em trabalhar com elementos orientais, uma característica que marcaria vários encenadores posteriores.

Artaud queria chocar o público com o teatro da crueldade. Ele queria tirar o espectador da letargia, de uma situação acomodada. Colocou em cena temas sobre o incesto, manequins em cena, movimentos obsessivos e repetitivos. E acumulou uma série de fracassos, porque o público acabou não indo a suas peças”, disse.

Um exemplo foi Os Cenci, um fracasso financeiro e de público, mas, segundo Viana, um grande êxito do ponto de vista da criação de trajes e figurinos.

O russo Constantin Stanislavski (1863-1938) e o alemão Bertolt Brecht (1898-1956) são dois dos encenadores mais conhecidos do público e os mais bem-sucedidos na divulgação de seus métodos. A metodologia de interpretação de Stanislavski até hoje é amplamente difundida mundo afora, conhecida e pesquisada em vários aspectos, mas o figurino raramente é analisado nos espetáculos do encenador russo.

Um traje ou objeto apropriados para uma figura cênica deixa de ser uma simples coisa material e adquire, para o autor, uma espécie de dimensão sagrada”, disse o russo, citado por Viana.

Para Stanislavski, não importava mais a necessidade de reconstituição histórica precisa, mas a teatralidade do traje. Ele foi um dos que mais experimentaram no teatro. É um erro rotulá-lo como realista-naturalista, porque ele experimentou de tudo”, disse.

Com Brecht, o processo de criação da indumentária era tão elaborado que chegava a alterar a dramaturgia do espetáculo, segundo Viana. “Ele tinha uma importante parceria com o cenógrafo Caspar Neher (1897-1962)”, disse.

Influenciado pela cultural oriental, Brecht defendia que nada deveria entrar em cena sem merecer. A simplicidade era o que o norteava. “Mas era uma simplicidade profundamente sofisticada. Em seu aparente despojamento estava a grandiosidade, a capacidade de revelar tanto com tão pouco”, indicou Viana.

Outro destaque no livro é a francesa Ariane Mnouchkine, 71 anos, fundadora e diretora do Thêátre du Soleil. Segundo Viana, na concepção de Ariane, de acordo com a necessidade dos atores e da encenação, o projeto inicial pode mudar.

Para ela, os atores têm toda a liberdade de criação. Durante os ensaios, eles têm à sua disposição costureiras e muitos tecidos”, disse Viana, que para fazer seu trabalho de pesquisa esteve em Moscou, Berlim, Alemanha, Londres e Paris.

  • Título: Figurino Teatral e as renovações do século XX
    Autor: Fausto Viana
    Páginas: 296
    Preço: R$ 67
    Mais informações
    : www.estacaoletras.com.br

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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sonoridades da história

        Por Alex Sander Alcântara  

Sonoridades da história

Livro analisa relação entre história e música no Brasil e destaca como as múltiplas influências contribuíram para a construção dos gêneros e gostos musicais (reprodução)

Agência FAPESP – Na década de 1920, jornais e revistas de São Paulo começaram a registrar um espetáculo curioso: pessoas se aglomeravam diariamente em frente às lojas de discos para ouvir os lançamentos da época, que incluíam tango, maxixe, marchinhas ou sambas, em gravações de artistas como Francisco Alves, Gastão Formenti, Stefana de Macedo ou Vicente Celestino.

Os mais abastados também se reuniam em cafés e outros lugares públicos, principalmente no centro comercial da cidade. A prática da escuta coletiva permaneceu mesmo após a proibição da Câmara Municipal, com o argumento de que o alto volume das vitrolas perturbava o sossego de comerciantes.

O episódio está registrado em um dos capítulos do livro História e Música no Brasil, organizado por José Geraldo Vinci de Moraes e Elias Thomé Saliba, que acaba de ser lançado. A obra reúne nove capítulos de pesquisadores ligados ao grupo Entre a Memória e a História da Música, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), criado em 2004.

O livro, que é acompanhado de CD, analisa fragmentos da história musical do país desde a chamada música colonial, passando pela chegada da família real em 1808, que imprimiu nova dinâmica cultural ao país, até o surgimento da indústria fonográfica nas três primeiras décadas do século 20. Destaca também artistas que marcaram a história da música popular brasileira, como Nazareth e Pixinguinha. A obra recebeu apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.

De acordo com Vinci, professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da USP, apesar de estar organizada de forma cronológica, a publicação não busca linearidade ou “sentido para o tempo histórico”.

O livro procura mostrar que a história da música no Brasil faz parte de uma construção múltipla. Não é apenas uma trajetória exclusiva e obsessiva da música nacional nem uma herança dada e muito menos exclusivamente afro-americana com relação às tradições populares. De outro lado, a obra evita fazer uma historiografia da música no Brasil baseada na dinâmica linear dos gêneros musicais ou nos autores”, disse à Agência FAPESP .

Uma das dificuldades do estudo realizado pelo grupo – que se centra sobretudo na música popular urbana – tem a ver também com as fontes de pesquisa. Os registros mais organizados são encontrados na imprensa ou são frutos de programas radiofônicos. É o caso de Almirante, cantor e radialista carioca que reuniu nas décadas de 1940 e 1950 um acervo fonográfico e bibliográfico que se tornou a base inicial do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, fundado por Carlos Lacerda (1914-1977), jornalista e político brasileiro, ex-governador e membro da União Democrática Nacional (UDN).

A pesquisa pretende discutir como se constrói uma narrativa historiográfica. A música também é o que as pessoas dizem sobre ela e como elas compreenderão depois o que foi dito, como a música popular, por exemplo. Como se chega a essa música, que não foi registrada em partitura nem em disco? Somente por meio do que foi dito”, disse Moraes.

Ele escreveu o capítulo Entre a memória e a história da música popular, resultado do projeto com mesmo título e que recebeu apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular. A pesquisa de Moraes – e também do grupo que é coordenado por ele – resultou na construção do site Memória da Música.

O projeto também teve apoio da FAPESP na forma de Bolsas de Iniciação Científica para coleta de dados e já abriga quase 400 registros de trabalhos publicados por historiadores e musicólogos, acompanhados também de arquivos sonoros.

A ideia foi criar um banco de dados para começar a refletir sobre os modos como os historiadores interpretam a música. A partir deste ano, pretendemos iniciar as análises qualitativas dos estudos arquivados no site”, disse.

A relação entre história e música ainda é um campo em aberto, segundo o pesquisador. “Existem algumas linhas de análises predominantes que, infelizmente, se tornaram também uma espécie de camisa de força e limitação, que se concentram no estudo da malandragem e da música no Estado Novo (1937-1945), na Bossa Nova e na década 1960 com os festivais. A maior parte das pesquisas ainda prefere abordar essas três linhas”, afirmou.

Construção do gosto brasileiro

O principal objetivo do livro, de acordo com o professor da USP, foi entender a história cultural da música. No capítulo Música na América Portuguesa, Paulo Castagna, do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), analisa a chamada música colonial, que marcou os três primeiros séculos após o Descobrimento, mas que é contestada pelo autor, que prefere utilizar o termo “música na América portuguesa”.

O texto de Castagna identifica as diferentes experiências e práticas musicais que ocorreram no país, sem criar fortes hierarquias entre a música erudita e popular. Ele analisa tanto a música religiosa e profana trazida pelos colonizadores europeus como também aborda as práticas dos indígenas e negros”, disse Moraes.

Um marco para a história da música brasileira se deu com a vinda da corte de D. João 6º, em 1808, que é analisada no capítulo Aspectos da Música no Brasil na primeira metade do século XIX. É nessa fase que se inicia um processo de “construção do gosto” musical específico no Brasil.

A chegada da Corte imprimiu nova dinâmica sociocultural ao Rio de Janeiro, com a entrada em cena de compositores, copistas e intérpretes como, por exemplo, os castrati, cantores representantes da escola italiana de canto setecentista cuja extensão vocal corresponde à das vozes femininas.

De acordo com Vinci, o momento seguinte – segunda metade do século 19 – inicia um interessante processo de hibridização e de misturas múltiplas. “É um período em que o Rio de Janeiro já tinha consolidado intensa vida musical que se manifestava tanto nos teatros fechados e ambientes cortesãos como nos espaços públicos e populares. Ou seja, é o momento em que se começam a decantar os gêneros musicais populares como choro, xote e samba urbano. Muitos deles vieram de influências da música europeia”, disse.

De autores como Pixinguinha – que sintetiza essa trajetória de hibridização cultural – ao samba-exaltação no Estado Novo (1937-1945), a obra aborda também a pouco conhecida produção fonográfica paulista na década de 1930 no capítulo Vitrola paulistana pelos olhos e ouvidos de um basbaque-andarilho, escrito por Camila Koshiba Gonçalves, doutoranda em história social pela USP.

O artigo de Camila trata da presença do disco no meio da população, da função pública que cria para a difusão da música já que o público não tinha dinheiro nem para comprar o fonógrafo nem as bolachas. Toda essa prática pública foi importante para criar um gosto musical”, disse.

A década de 1950 é destacada no capítulo Na trilha das grandes orquestras. O ABC da cidade moderna. Aviões, Bailes e Cinema, de Francisco Rocha, pesquisador ligado ao grupo. O texto procura compreender as relações entre os signos da cidade moderna (avião, bailes e cinema) com a música popular.

Em cada capítulo do livro, o leitor poderá acompanhar os textos com referências das músicas contidas no CD. “A ideia original era que para cada capítulo tivéssemos dois registros sonoros do que é apresentado e discutido, mas, infelizmente, esbarramos na questão de direitos autorais”, disse.

Entre as músicas, há algumas preciosidades sonoras como a gravação de Batuque, de Henrique Alves de Mesquita, realizada em 1910, do programa do radialista Almirante de 1938, e Quem dá mais (ou Leilão do Brasil), gravada por Noel Rosa em 1932.

  • Título: História e Música no Brasil
    Organizadores: José Geraldo Vinci de Moraes e Elias Thomé Saliba
    Páginas: 412
    Preço: R$ 78
    Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br

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terça-feira, 8 de junho de 2010

SMA lança caderno Biodiversidade

       Agência FAPESP

SMA lança caderno <i>Biodiversidade</i>

Secretaria Estadual do Meio Ambiente disponibiliza na internet publicação de educação ambiental sobre biodiversidade (reprodução)

A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo lançou o caderno de educação ambiental Biodiversidade, o quarto de uma série que engloba os títulos anteriores Águas subterrâneas, Ecocidadão e Unidades de conservação da natureza.

A publicação, com muitas fotos, ilustrações e gráficos, é redigida de maneira didática por pesquisadores do Instituto de Botânica e visa a atingir especialmente professores e estudantes de ensino fundamental e médio.

A publicação é dividida nos tópicos “O que é biodiversidade”, “Biomas do Estado de São Paulo”, “Como conhecer a biodiversidade”, “Efeitos de impactos ambientais na biodiversidade” e “Gestão da biodiversidade”.

O lançamento marcou também as comemorações do Ano Internacional da Biodiversidade declarado pela Organização das Nações Unidas para 2010.

O caderno sobre biodiversidade e os demais volumes da série são gratuitos e estão disponíveis para download no site da Secretaria do Meio Ambiente.

Mais informações: www.ambiente.sp.gov.br/cadernos.php

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