segunda-feira, 30 de agosto de 2010

7 livros que ferraram a humanidade (ou quase)

 

Ana Carolina Prado

Teóricos equivocados podem causar grandes prejuízos. Já tivemos livros que incentivavam a matança de mulheres consideradas bruxas, defendiam a inferioridade de certas nacionalidades, diziam que as mulheres eram menos inteligentes que os homens. Com a ajuda de historiadores, listamos 7 livros que, por causa de teorias equivocadas, inspiraram pessoas a cometer atos e sustentar ideias desastrosas.

Os livros não estão em nenhuma ordem particular e, é claro, foi impossível listar todos eles. Comente e diga quais você acha que faltaram.


1- “L’uomo delinqüente” (O homem delinquente), Cesare Lombroso, 1876

O médico e cientista italiano Cesare Lombroso defende, nesse livro, a teoria de que certas pessoas nasceram para ser criminosas e que isso é determinado por características físicas, como nariz adunco e testa fina, traços típicos dos judeus. A obra fez muito sucesso e influenciou o direito penal no mundo todo. Mas o problema maior foi que a obra também reforçou várias teorias racistas – principalmente o anti-semitismo nazista. O detalhe é que o próprio autor era judeu e sua intenção era simplesmente ajudar a ciência penal e jurídica. Atualmente, a teoria caiu no descrédito. Mas, mesmo assim, ainda há quem a defenda (sempre tem, né?).

2- “Mein Kampf” (Minha Luta), Adolf Hitler, 1925


O livro de Hitler tem, na verdade, 2 volumes. O primeiro foi escrito quando ele tinha 35 anos e estava preso por causa de uma tentativa de golpe de estado mal-sucedida. O segundo, inédito no Brasil, foi escrito já fora da prisão. O livro se destacou pelo racismo e anti-semitismo do autor, que via o judaísmo e o comunismo como grandes males e ameaças do mundo – o autor pretendia erradicar ambos da face da terra. A obra revela o desejo de transformar a Alemanha num novo tipo de Estado que abrigasse a raça pura ariana e que o tivesse como um líder de grandes poderes. Era um aviso para o mundo, mas na época ninguém de fora da Alemanha deu muita bola. Mein Kampf ainda hoje influencia os neonazistas.

3- “A inferioridade intelectual da mulher”, Carl Moebius, século 19. Sem tradução para o português.
Psicólogo influente em meados do século 19, Moebius escreveu esse livro seguindo idéias já bastante disseminadas desde a época de Platão e Aristóteles e defendia a inferioridade feminina e a restrição dos seus direitos. Usando pesquisas e tabelas pseudo-científicas, ele comparou o desempenho feminino em determinadas áreas intelectuais quando em disputa com homens (em um teste parecido com o vestibular de hoje). Pensadores antifeministas citavam essa obra para apoiar teses de que as mulheres não deveriam ter uma série de direitos por serem “inferiores intelectualmente”.

4- “O martelo das bruxas” ou “Malleus Maleficarum”, Jacob Sprenger, 1485

Manual de caça às bruxas que levou muita gente à fogueira, o livro foi muito influente entre as igrejas católica e protestante. Jacob Sprenger indicou uma série de procedimentos para a identificação das bruxas: se a mulher tivesse uma convivência maior com gatos, por exemplo, já era suspeita. A obra foi responsável por quase 150 anos de matança indiscriminada de mulheres. A onda só passou depois que o método científico começou a prevalecer sobre a crença religiosa cega, a partir da publicação dos estudos de Isaac Newton. Com o pessoal discutindo assuntos científicos, pegava mal ficar caçando bruxa.

5- “Essai sur l’inégalité des races humaines” (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas), Joseph Gobineau, 1855

O livro do cientista social Gobineau virou referência obrigatória para aqueles que defendem a superioridade de algumas raças sobre as outras. O autor desempenhou por um bom tempo cargo diplomático na corte de D. Pedro II e achava o Brasil “uó” por ter tanta miscigenação. Segundo ele, a miscigenação degenera as sociedades porque piora as supostas limitações das raças inferiores (as não-brancas, para ele). A obra passou a ser usada para sustentar a legitimidade do tráfico negreiro. Sua tese foi tão aceita que até hoje existem alguns cientistas que mantém a crença na superioridade de algumas raças.

6- ” The Man Versus the State ” (O Indivíduo Contra o Estado), Herbert Spencer, 1884
Embora alguns digam que essa é uma leitura injusta do livro, ele foi utilizado para a defesa do capitalismo selvagem no século 19, principalmente nos EUA. Spencer defende que, assim como ocorre na natureza, nas sociedades humanas também prevalecem os mais aptos. Isso quer dizer que os ricos e poderosos são assim porque estão mais preparados que os pobres. O livro passou a ser usado, então, para justificar a falta de ética nas relações comerciais, com a destruição implacável da concorrência, a busca incessante por riquezas e o pouco caso com os pobres.

7- The Seduction of the Innocent (“A sedução dos inocentes”), Frederic Wertham, 1954

Ok que o livro não gerou nenhuma atrocidade, mas ajudou a disseminar ideias equivocadas a respeito de uma coisa que a gente gosta: quadrinhos. No livro, o psiquiatra alemão-americano Werthan forjou argumentos para atribuir às HQs o papel de culpadas por casos de delinquência, abandono dos estudos e homossexualidade entre crianças e adolescentes. O livro foi lançado numa época em que as HQs eram um dos gêneros de leitura mais consumidos nos EUA e até o governo pensou em proibi-los (naquele tempo, rolava uma preocupação imensa nos EUA de que os jovens estivessem sendo corrompidos por idéias comunistas). Para evitar isso, as editoras lançaram o Comics Code Authority – um código de autocensura que ainda existe e que seria um indicativo de que o material publicado não iria degenerar os jovens.

Não incluímos livros mal interpretados, “tsá”?
Não incluímos nessa lista os livros que foram simplesmente mal interpretados. A Bíblia é um exemplo disso. O professor de filosofia da UNESP Jézio Gutierre acha que o caso com “O Capital”, de Karl Marx, também tem a ver com interpretações equivocadas. “Esse livro é um grito ético humanista e tem todas as características para ser um livro anti-atrocidade”, explica. Para ele, portanto, não se pode atribuir a essa obra os massacres que governantes socialistas promoveram.

Fontes: Lincoln Ferreira Secco (USP), Jézio Hernani Bomfim Gutierre (UNESP), Márcio dos Santos Rodrigues ( UFMG), Adriana Romeiro (UFMG)

7 livros que ferraram a humanidade (ou quase) – Superlistas

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Olhar sociológico sobre a infância

Agência FAPESP

Por Fábio de Castro

Olhar sociológico sobre a infância

Livro apresenta artigos de grupo de pesquisadores da UFSCar que trabalham na construção de uma genealogia da sociologia da infância no Brasil (Wikimedia)

Desde a década de 1980, a sociologia da infância vem se constituindo como um campo de pesquisa no plano internacional. Nos últimos anos, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) tem trabalhado para construir uma genealogia da sociologia da infância brasileira.

Os resultados conseguidos até agora por esse esforço coletivo de pesquisa estão reunidos no livro O plural da infância: aportes da sociologia, organizado por Anete Abramowicz e Andrea Braga Moruzzi e lançado recentemente pela EdUFSCar. Andrea é doutoranda orientada por Anete, professora do Departamento de Metodologia de Ensino da UFSCar.

De acordo com Anete, a infância, em especial na faixa de zero a seis anos, sempre foi tema estudado de forma abundante pela psicologia. Mas, até a década de 1980, a sociologia pouco havia produzido sobre o assunto."Quando estudava a criança, fazia isso por meio de suas 'instituições zeladoras', como a família ou a escola. A criança, para além de seu métier como aluno, nasce nessa trajetória", disse à Agência FAPESP.

A partir de 1980 – e com mais intensidade na década de 1990 –, a sociologia da infância começou a se tornar um campo do conhecimento.

Os sociólogos haviam abandonado a criança, mas nos últimos anos esse panorama foi sendo transformado e o nosso grupo na UFSCar tem trabalhado intensamente com o tema. O livro discute as múltiplas possibilidades da sociologia quando toma a criança pequena como foco”, afirmou Anete.

Do ponto de vista da sociologia da infância, as crianças são entendidas como atores sociais e como sujeitos dos seus processos de socialização, produtoras da diferença e da pluralidade.

O livro procura introduzir os aportes teóricos desse campo, valorizando a afirmação das crianças como categoria social que deve ser entendida no plural, já que as experiências de infância são infinitas”, disse.

A obra, que reúne artigos de diversos autores ligados ao grupo da UFSCar, destaca os temas fundamentais desse campo emergente do conhecimento e indica o que a sociologia tem a dizer sobre a criança e a infância. “Essa área tem como temas de destaque a cultura da infância, o trabalho infantil, a sexualidade infantil e a construção da institucionalização da criança, por exemplo”, explicou Anete.

A partir de autores pós-estruturalistas e pós-colonialistas, o grupo também trabalhou o pensamento sobre a criança em relação a temas como gênero, raça e etnia. “O livro é produto de um longo trabalho de pesquisa, em um esforço coletivo dedicado a organizar essa temática”, disse a pesquisadora, que concluiu em 2010 um pós-doutorado sobre sociologia da infância na Universidade Paris-Descartes, na França.

O objetivo do grupo é contribuir para o debate sobre o que significa uma sociologia da infância brasileira. “Estamos construindo essa genealogia, identificando como se constrói”, disse.

Anete coordena o projeto de pesquisa “Educação e Sociologia da Infância no Brasil: uma genealogia em construção”, apoiado pela FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.

Cultura infantil

Embora tenha se consolidado como campo de pesquisa apenas na década de 1980, na França, o termo sociologia da infância já havia sido cunhado em 1937, em um texto do sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss (1872-1950).

No Brasil, o marco inaugural da sociologia da infância, de acordo com Anete, é o texto As trocinhas do Bom Retiro, do sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), publicado no livro Folclore e mudança social na cidade de São Paulo, de 1961.

Naquele texto, Florestan usou pela primeira vez o termo ‘cultura infantil’. É esse o marco inicial da sociologia da infância brasileira. É a partir daí que vamos traçar o percurso dos autores que trataram do tema, construindo a genealogia desse campo do conhecimento”, disse Anete.

O título do livro lançado agora, segundo ela, reflete a preocupação em evidenciar a existência de diversas infâncias distintas sob o ponto de vista sociológico. “Tratamos desde a infância no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, até a infância indígena observada do ponto de vista da sociologia”, apontou.

A publicação é voltada em especial para estudantes de graduação e de pós-graduação, além de professores que pretendem trabalhar com a sociologia da infância.

É provavelmente a primeira vez que se reúne um conteúdo sobre sociologia da infância organizado com um viés didático. Esperamos que essa característica possa ajudar a multiplicar os estudos sobre o tema que são feitos em diversos centros no Brasil”, disse Anete.

  • Título: O plural da infância: aportes da sociologia
    Organização: Anete Abramowicz e Andrea Braga Moruzzi
    Lançamento: 2010
    Preço: R$ 21
    Páginas: 118
    Mais informações: http://editora.ufscar.br

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Flora brasileira ganha lista

Agência FAPESP

Flora brasileira ganha lista

Lista de Espécies da Flora do Brasil, resultado do trabalho de dezenas de pesquisadores, é lançada na internet com dados sobre mais de 40 mil espécies

A Lista de Espécies da Flora do Brasil está disponível para acesso pela internet, com informações sobre mais de 40 mil espécies da flora brasileira, divididas em angiospermas, algas, briófitas, pteridófitas, gimnospermas e 3,6 mil fungos.

A lista é resultado do trabalho de cerca de 400 taxonomistas de instituições de pesquisa brasileiros e está inserida nas metas da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), que compreende, entre seus compromissos, a implementação da Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC).

A GSPC tem o objetivo de facilitar o consenso e a sinergia nos níveis global, nacional, regional e local para impulsionar o conhecimento e a conservação de plantas.

Das 16 metas estabelecidas pela GSPC, a primeira é a elaboração de uma “lista funcional amplamente acessível das espécies conhecidas de plantas de cada país, como um passo para a elaboração de uma lista completa da flora mundial”.

A elaboração da lista foi coordenada pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em parceria com o Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora). O sistema de informação foi desenvolvido pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria).

A intenção é que a lista seja atualizada periodicamente para incluir novas espécies e mudanças taxonômicas.

A estimativa dos organizadores é que a lista seja transformada em livro para ser lançado no 61º Congresso Nacional de Botânica, que ocorrerá de 5 a 10 de setembro, em Manaus.

Mais informações: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2010

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