domingo, 26 de abril de 2009

Cortando grama

É oito horas da manhã.
Começo a cortar a grama, minha programação é cortar a metade até as onze.
O Sol já está insuportável, seus raios queimam, não ligo.
Minha atenção se prende na verde grama à frente da máquina, prestando atenção se não há pedras ou pedaços de metais que a lâmina possa atirar contra as minhas pernas.
A grama húmida me acaricia os pés descalços, o vrum-vrum-vrum da máquina me faz sonhar: imagino maneiras de fazer fortuna, sonho com maneiras de se gastar esta fortuna; almejo a conquista de amores impossíveis e novas maneiras de amar estes amores; planejo o domínio de novos sois...
Este Sol ciumento me lembra que não preciso de outros sois, ele já me basta, me torturando com um calor imenso, tornando impossível sonhar.
Nove e trinta, meus braços, meu rosto e minha nuca ardem, a grama seca e me incomoda os pés, calço chinelos. Sinto dor em cada músculo de minhas pernas, somente a força de vontade me faz continuar.
Onze e dez, acabei, trezentos metros de grama cortada. Sento-me à sombra da varanda, minha filha caçula, com a presteza que só os filhos caçulas sabem ter, traz-me uma garrafa de dois litros de água gelada, dou um longo gole, agradeço (minha vontade é beija-la, mas estou muito suado), tento me levantar, as costas doem, olho meus braços e a minha pele negra está mais negra. Tento encarar o Sol, não consigo, então, mentalmente, ergo-lhe meus punhos cerrados e, telepaticamente, lhe grito: Sol filho de uma ..., você pensou que estava me ferindo mas estava me dando somente proteção extra, amanhã teus raios não me queimarão, somente me farão carícias, e então eu poderei fazer o que mais gosto, conquistar novos sois.

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