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Pintura de Vlad (Drácula) Tepes, príncipe do século 15 que inspirou o vampiro fictício de Bram StokerFoi somente quando avaliou referências durante uma pesquisa no British Museum que o romancista
Bram Stoker encontrou o homem que serviria de base perfeita para seu clássico personagem de terror gótico, o
Conde Drácula [fonte: Kent State University].
Vlad Tepes, um príncipe do século 15, que vivia nas montanhas da Europa oriental foi sua inspiração.
Relatos da crueldade de Vlad Tepes vêm sendo distorcidos ao longo da história e a adaptação de Stoker parece ter perpetuado esses equívocos. Do pai, Vlad orgulhosamente herdou o nome
"Dracul" ("Filho do Dragão"), mas o príncipe passou a ser chamado de
"Tepes" ("Empalador") baseado em seu suposto gosto de empalar suas vítimas.
Mas Stoker não se inspirou apenas no nome do príncipe. O reinado de Tepes realmente foi cruel e sangrento. Quando se investiga o sensacionalismo da história, é fácil encontrar relatos extremamente exagerados que obscurecem os fatos, como os de milhares de pessoas torturadas, mutiladas ou mortas por ele ou sob seu comando [fonte: University of Louisiana].
Vlad fez muitos inimigos poderosos como príncipe da Wallachia, região da Romênia, porque era defensor do cristianismo contra os turcos muçulmanos. Foram seus inimigos que divulgaram histórias terríveis sobre ele, o que inadvertidamente assegurou o lugar de Tepes na história. Os relatos dos feitos e das atrocidades cometidas por Tepes eram tão impressionantes que um desagradável poema épico sobre ele foi publicado pela máquina de impressão de Gutenberg apenas oito anos depois de o mesmo equipamento ter sido usado para imprimir a primeira Bíblia [fonte: Mundorf and Mundorf]. Se os detratores não tivessem se empenhado em uma campanha contra ele através de publicações que existem até hoje, o legado de Tepes poderia ter se perdido.
Então quem foi esse homem? Tepes tinha sede de sangue na vida real como o personagem de ficção nos filmes e livros? A resposta é sim - talvez até mais.
O empaladorA ficção criada por Bram Stoker quanto ao Vlad Tepes estimulou uma pesquisa que visava mostrar os motivos para os assassinatos cometidos pelo príncipe. Tepes desejava uma Romênia unificada, livre das influências externas da Alemanha (em inglês), da Hungria (em inglês) e dos turcos.
A consolidação de seu poder foi cruel. Na Páscoa de 1456, Tepes convidou a aristocracia da região para jantar com ele. Depois da refeição, ele matou os idosos e os mais fracos e marchou 50 milhas junto aos demais convidados a um castelo dilapidado, do qual se apossou. Ali fez a nobreza trabalhar pesado para restaurar o castelo. A maioria morreu vítima de maus tratos e de exaustão; os que sobreviveram foram empalados vivos em estacas fora do castelo onde as restaurações haviam sido concluídas [fonte: Carroll].
O pai de Vlad,
Vlad Dracul, governou Wallachia de 1436 a 1442, foi destituído por seus compatriotas e retomou o trono de 1443 a 1446. Vlad Tepes ocupou a mesma posição de 1456 a 1462 [fonte: Tacitus]. Quando se iniciou na Ordem do Dragão, organização secreta dos cavaleiros cristãos, ele assumiu o nome "Drácula" que seria substituído pelo apelido "Tepes" por quem o temia e o odiava.
As ideologias sociais de Vlad Dracul eram contraditórias. Vlad queria ser lembrado como um santo e chegou a matar um monge católico que negou que ele seria canonizado [fonte: Carroll]. Seu comportamento jamais poderia ser comparado ao de um santo. Vendo a destituição como um castigo a seu domínio, Tepes convidou seus pobres súditos para jantar com ele. No fim do jantar, ele trancou a porta da sala e seus guardas atearam fogo no local, matando os que estavam dentro do recinto [fonte: Marinari].
Seus inimigos estrangeiros sofreram punições semelhantes (senão piores) a de seus súditos. Durante quatro anos, Tepes e seu irmão mais novo foram aprisionados pelos turcos quando o pai os havia enviado como tributo do sultão
Mehmet. Para os turcos, o pai de Tepes tinha se tornado um líder fantoche da Wallachia e seus filhos foram aprisionados para garantir a contínua lealdade do pai deles [fonte: Fasulo]. Esperava-se que Tepes agisse como seu pai, mas, em vez de manter a submissão aos turcos, ele resolveu combatê-los.
Quando se tornou príncipe em 1456, Tepes deu passos largos em direção à independência da Romênia. Ele promoveu uma guerra biológica ao enviar súditos disfarçados de turcos com doenças infecciosas para viver entre os militares nos campos [fonte: Marinari]. Quando eles invadiram a capital de Wallachia, Tirgoviste, os turcos que sobreviveram encontraram uma floresta (com dimensão entre 800 metros a 3 quilômetros) feita inteiramente de corpos de prisioneiros capturados e empalados em estacas. Os invasores partiram rapidamente [fonte: Carroll].
A empalação, método de execução muito usado por Tepes, era uma forma extremamente dolorosa de morrer. Tepes se certificava de causar o máximo de dor quando empalava suas vítimas ao arredondar as extremidades das estacas para reduzir o corte. Estacas eram inseridas no ânus da vítima e empurradas para a outra extremidade até sair pela boca. Depois disso, as vítimas empaladas eram içadas verticalmente e deixadas em agonia - algumas vezes dias a fio [fonte: Fasulo].
O velho vampiro no romance de Stoker precisava de sangue para continuar vivo; Tepes derramou sangue para dar vida longa a seus objetivos. Segundo algumas estimativas, o número de vítimas chegou a 40 mil [fonte: University of Louisiana]. Vale destacar que alimento e morte eram muito entrelaçados na vida de Tepes. Ele freqüentemente jantava com seus convidados antes de matá-los e ficou conhecido por fazer refeições ao ar livre no meio de pessoas mortas ou agonizantes [fonte: Martin]
Por que sangue é um símbolo de vitalidade e poder na ficção?
Sangue: símbolo da vidaA maioria dos cristãos não iria pressupor o vampirismo na história da última ceia. Cristo oferece aos discípulos o cálice contendo vinho que simboliza seu sangue. Mas existe um paralelo entre a Eucaristia e as lendas de vampiro: ambas sugerem que o sangue traz a vida.
De acordo com algumas fontes, sangue também era conhecido por sua capacidade mítica de manter a beleza. Quando o Drácula da ficção de Bram Stoker se alimentava de sangue, sua aparência mudava e ele se tornava bonito e jovem. Comenta-se que a condessa húngara
Elizabeth Bathory usava sangue de suas vítimas para promover a beleza de sua pele. Algumas mulheres da época renascentista acreditavam que aplicar sangue de pombos na pele pudesse manter a beleza [fonte: McNally].
Antropofagia (canibalismo) é um exemplo da simbólica vitalidade proveniente da ingestão de carne ou de sangue de outros humanos. Por meio do canibalismo, a vitalidade geralmente surge de duas fontes: da família e dos derrotados.
Endocanibalismo se refere à ingestão de carne de um membro do grupo. Em algumas culturas, comer carne de parentes serve para manter a linha dos ancestrais [fonte: Goldman].
Exocanibalismo consiste na ingestão de carne de uma pessoa de fora do grupo, a exemplo de um inimigo capturado. Segundo relatos, Tepes cometeu exocanibalismo quando ingeriu sangue de turcos capturados, embora não haja evidências de que ele acreditasse obter qualquer poder decorrente do ato. Antes, ele havia comido pão embebido em sangue em uma tigela como sinal do que os turcos deveriam esperar do futuro [fonte: West Grey Times].
Canibalismo associado à loucura no mundo moderno e desenvolvido. O alemão
Armin Meiwes foi condenado por carnificina ao matar e comer um humano, que foi condescendente com o ato.Talvez o caso mais famoso de canibalismo tenha acontecido em 1972, quando um avião que levava a seleção uruguaia de rugbi caiu na Cordilheira dos Andes. Diversas pessoas sobreviveram e recorreram ao canibalismo comendo a carne dos colegas mortos para sobreviver por mais de dois meses [fonte: Walton (em inglês)].
Parece que nossos ancestrais levaram algum tempo para criar costumes - restrições culturais - contra o canibalismo. Evidências de antropofagia recente (1100 d.C.) foram descobertas em povoados em Anasazi no sudoeste dos Estados Unidos [fonte: Melmer]. Pesquisadores encontraram uma variação no gene humano em todo o mundo o que sugere que nós descendemos dos canibais [fonte: BBC (em inglês)].
Assim, lendas de vampiros podem ser alegorias de verdadeiros monstros na vida real - talvez como Vlad Tepes - que se recusaram a honrar o sagrado tabu de não consumir a vitalidade de outros humanos.
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