segunda-feira, 15 de junho de 2009

Vinicius de Moraes

Diplomata, Poeta, Cantor, Boêmio e bon-vivant, Marcus Vinícius de Melo Moraes foi o nosso poetinha. Foi parceiro como poeta-letrista de importantes nomes da música popular brasileira, mais precisamente, na bossa-nova, com Tom Jobim, Baden Powell, Toquinho, dentre outros.


Após o curso secundário, no colégio Santo Inácio, época em que já compõe versos, ingressa na Faculdade Nacional de Direito (1930). Defende tese sobre a vinda de d. João VI para o Brasil para ingressar no "Centro Acadêmico de Estudos Jurídicos e Sociais" (CAJU). Em 1933, forma-se em Direito e termina o Curso de Oficial de Reserva. Estimulado por Otávio de Faria, publica seu primeiro livro, O caminho para a distância, na Schimidt Editora.

Abandono da Advocacia, Europa e Jornalismo

Abandona a advocacia e passa a exercer as funções de censor cinematográfico até 1938, quando parte para a Inglaterra em bolsa de estudos. Trabalha na BBC de Londres e em 1939 regressa para o Brasil, onde divide São Paulo e Rio de Janeiro, quando começa a colaborar com a imprensa. Em 1935 publica Forma e exegese, com o qual ganha o prêmio Felipe de Oliveira. Em 1936, publica, em separata, o poema Ariana, a mulher. Substitui Prudente de Morais Neto, como representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica. Conhece Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos quais se torna amigo.

Novos Poemas, Bolsa de Estudos, Casamentos e Personalidades

Em 1938 publica novos poemas e é agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford (Magdalen College), para onde parte em agosto do mesmo ano. Funciona como assistente do programa brasileiro da BBC. Conhece, em casa de Augusto Frederico Schimidt, o poeta e músico Jayme Ovalle, de quem se torna um dos maiores amigos. Em 1939 casa-se por procuração com Beatriz Azevedo de Mello. Regressa da Inglaterra em fins do mesmo ano, devido à eclosão da II Grande Guerra. Em Lisboa encontra seu amigo Oswald de Andrade com quem viaja para o Brasil. Em 1940 nasce sua primeira filha, Susana. Passa longa temporada em São Paulo, onde se liga de amizade com Mário de Andrade. Em 1941 começa a fazer jornalismo em A Manhã, como crítico cinematográfico e a colaborar no Suplemento Literário ao lado de Rineiro Couto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Afonso Arinos de Melo Franco, sob a orientação de Múcio Leão e Cassiano Ricardo. Em 1942 inicia seu debate sobre cinema mudo e cinema sonoro, a favor do primeiro, com Ribeiro Couto, e em seguida com a maioria dos escritores brasileiros mais em voga, e do qual participam Orson Welles e madame Falconetti. Nasce seu filho Pedro. A convite do então prefeito Juscelino Kubitschek, chefia uma caravana de escritores brasileiros a Belo Horizonte, onde se liga de amizade com Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Hélio Pelegrino e Paulo Mendes Campos. Inicia, com seus amigos Rubem Braga e Moacyr Werneck de Castro, a roda literária do Café Vermelhinho, à qual se misturam a maioria dos jovens arquitetos e artistas plásticos da época, como Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Afonso Reidy, Jorge Moreira, José Reis, Alfredo Ceschiatti, Santa Rosa, Pancetti, Augusto Rodrigues, Djanira, Bruno Giorgi. Freqüenta, nessa época, as domingueiras em casa de Aníbal Machado. Conhece e se torna amigo da escritora Argentina Maria Rosa Oliver, através da qual conhece Gabriela Mistral. Faz uma extensa viagem ao Nordeste do Brasil acompanhando o escritor americano Waldo Frank, a qual muda radicalmente sua visão política, tornando-se um antifacista convicto. Na estada em Recife, conhece o poeta João Cabral de Melo Neto, de quem se tornaria, depois, grande amigo.

Amizades, Carreira Diplomática e Novo Casamento

Em 1943 publica suas Cinco elegias, em edição mandada fazer por Manuel Bandeira, Aníbal Machado e Otávio de Faria. Ingressa, por concurso, na carreira diplomática. Em 1944 dirige o Suplemento Literário de O Jornal, onde lança, entre outros, Oscar Niemeyer, Pedro Nava, Marcelo Garcia, francisco de Sá Pires, Carlos Leão e Lúcio Rangel, em colunas assinadas, e publica desenhos de artistas plásticos até então pouco conhecidos, como Carlos Scliar, Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti, Eros (Martim) Gonçalves, Arpad Czenes e Maria Helena Vieira da Silva. Em 1945 colabora em vários jornais e revistas, como articulista e crítico de cinema. Faz amizade com o poeta Pablo Neruda. Sofre um grave desastre de avião na viagem inaugural do hidro Leonel de Marnier, perto da cidade de Rocha, no Uruguai. Em sua companhia estão Aníbal Machado e Moacir Werneck de Castro. Faz crônicas diárias para o jornal Diretrizes. Em 1946 parte para Los Angeles, como vice-cônsul, em seu primeiro posto diplomático. Ali permanece por cinco anos sem voltar ao Brasil. Publica em edição de luxo, ilustrada por Carlos Leão, seu livro, Poemas, sonetos e baladas. Em 1947, em Los angeles, estuda cinema com Orson Welles e Gregg Toland. Lança, com Alex Viany, a revista Film. Em 1949 João Cabral de Melo Neto tira, em sua prensa mensal, em Barcelona, uma edição de cinqüenta exemplares de seu poema Pátria minha. Em 1950 viaja ao México para visitar seu amigo Pablo Neruda, gravemente enfermo. Ali conhece o pintor David Siqueiros e reencontra seu grande amigo, o pintor Di Cavalcanti. Morre seu pai. Também em 1947 retorna ao Brasil. Em 1951casa-se pela segunda vez com Lila Maria Esquerdo e Bôscoli. Começa a colaborar no jornal Última Hora, a convite de Samuel Wainer, como cronista diário e posteriormente crítico de cinema. Em 1952 visita, fotografa e filma, com seus primos, Humberto e José Francheschi, as cidades mineiras que compõe o roteiro do Aleijadinho, com vistas à realização de um filme sobre a vida do escultor que lhe for a encomendado pelo diretor Alberto Cavalcanti. É nomeado delegado junto ao festival de Punta Del Leste, fazendo paralelamente sua cobertura para o Última Hora. Parte logo depois para a Europa, encarregado de estudar a organização dos festivais de cinema de Cannes, Berlim, Locarno e Veneza, no sentido da realização dos Festival de Cinema de São Paulo, dentro das comemorações do IV Centenário da cidade. Em Paris, conhece seu tradutor francês, Jean Georges Rueff, com quem trabalha, em Estrasburgo, na tradução de suas Cinco elegias. Em 1953 nasce sua filha Georgiana. Colabora no tablóide semanário Flan, de Última Hora, sob direção de Joel Silveira. Aparece a edição francesa das Cinq élégies, em edição de Pierre Seghers. Liga-se de amizade com o poeta cubano Nicolás Guillén. Compõe seu primeiro samba, música e letra, "Quando tú passas por mim". Faz crônicas diárias para o jornal A Vanguarda, a convite de Joel Silveira. Parte para Paris como segundo secretário de Embaixada. Em 1954 sai a primeira edição de sua Antologia Poética. A revista Anhembi publica sua peça Orfeu da Conceição, premiada no concurso de teatro do IV Centenário do Estado de São Paulo. Em 1955 compõem em Paris uma série de canções de câmara com o maestro Cláudio Santoro. Começa a trabalhar para o produtor Sasha Gordine, no roteiro do filme Orfeu Negro. No fim do ano vem com ele ao Brasil, por uma curta estada, para conseguir financiamento para a produção da película, o que não consegue, regressando em fins de dezembro a Paris.

Novos Livros e Muitas Andanças

Em 1956 volta ao Brasil em gozo de licença-prêmio. Nasce sua terceira filha, Luciana. Colabora no quinzenário Para Todos a convite de seu amigo Jorge amado, em cujo primeiro número publica o poema "O operário em construção". Paralelamente aos trabalhos da produção do filme Orfeu Negro, tem o ensejo de encenar sua peça Orfeu da Conceição, no Teatro Municipal, que aparece também em edição comemorativa de luxo, ilustrada por Carlos Scliar. Convida Antônio Carlos Jobim para fazer a música do espetáculo, iniciando com ele a parceria que, logo depois, com a inclusão do cantor e violonista João Gilberto, daria início ao movimento de renovação da música popular brasileira que se convencionou chamar de Bossa Nova. Retorna ao posto, em Paris, no fim do ano. Em 1957 é transferido da Embaixada em Paris para a Delegação do Brasil junto à UNESCO. No fim do ano é removido para Montevidéu, regressando, em trânsito, ao Brasil. Publica a primeira edição de seu Livro de Sonetos, em edição de Livros de Portugal. Em 1958 sofre um grave acidente de automóvel. Casa-se com Maria Lúcia Proença. Parte para Montevidéu. Sai o LP Canção do Amor Demais, de músicas suas com Antônio Carlos Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. No disco ouve-se, pela primeira vez, a batida da bossa nova, no violão de João Gilberto, que acompanha acantora em algumas faixas, entre as quais o samba "Chega de Saudade", considerado o marco inicial do movimento.

Literatura, Parcerias musicais e Boemia

Em 1959 sai o LP Por Toda Minha Vida, de canções suas com Jobim, pela cantora Lenita Bruno. O filme Orfeu Negro ganha a Palme d'Or do Festival de Cannes e o Oscar, de Hollywood, como melhor filme estrangeiro do ano. Aparece o seu livro Novos poemas II. Casa-se sua filha Susana. Em 1960 retorna à Secretaria do Estado das Relações Exteriores. Em novembro, nasce seu neto, Paulo. Sai a segunda edição de sua Antologia Poética, pela Editora de Autor; a edição popular da peça Orfeu da Conceição, pela livraria São José e Recette de Femme et autres poèmes, tradução de Jean-Georges Rueff, em edição Seghers, na coleção Autour du Monde. Em 1961 começa a compor com Carlos Lira e Pixinguinha. Aparece Orfeu Negro, em tradução italiana de P.A. Jannini, pela Nuova Academia Editrice, de Milão. Em 1962 começa a compor com Baden Powell, dando inicio à série de afro-sambas, entre os quais, Berimbau e Canto de Ossanha. Compõe, com música de Carlos Lyra, as canções de sua comédia-musicada Pobre menina rica. Em agosto, faz seu primeiro show, de larga repercussão, com Antônio Carlos Jobim e João Gilberto,na boate AuBom Gourmet, que daria início aos chamados pocket-shows, e onde foram lançados pela primeira vez grandes sucessos internacionais como Garota de Ipanema e o Samba da bênção. Show com Carlos Lyra, na mesma boate, para apresentar Pobre menina rica e onde é lançada a cantora Nara Leão. Compõe com Ari Barroso as últimas canções do grande compositor popular, entre as quais Rancho das namoradas. Aparece a primeira edição de Para viver um grande amor, pela Editora do Autor, livro de crônicas e poemas. Grava, como cantor, seu disco com a atriz e cantora Odete Lara. Em 1963 começa a compor com Edu Lobo. Casa-se com Nelita Abreu Rocha e parte em posto para Paris, na delegação do Brasil junto a UNESCO. Em 1964 regressa de Paris e colabora com crônicas semanais para a revista Fatos e Fotos, assinando paralelamente crônicas sobre música popular para o Diário Carioca. Começa a compor com Francis Hime. Faz show de grande sucesso com o compositor e cantor Dorival Caymmi, na boate Zum-Zum, onde lança o Quarteto em Cy. Do show é feito um LP. Em 1965 sai Cordélia e o peregrino, em edição do Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura. Ganha o primeiro e o segundo lugares do I Festival de Música Popular de São Paulo, da TV Record, em canções de parceria com Edu Lobo e Baden Powell. Parte para Paris e St.Maxime para escrever o roteiro do filme Arrastão, indispondo-se, subseqüentemente, com seu diretor, e retirando suas músicas do filme. De Paris voa para Los Angeles a fim de encontrar-se com seu parceiro Antônio Carlos Jobim. Muda-se de Copacabana para o Jardim Botânico, à rua Diamantina, nº 20. Começa a trabalhar com o diretor Leon Hirszman, do Cinema Novo, no roteiro do filme Garota de Ipanema. Volta ao show com Caymmi, na boate Zum-Zum.

O Poeta Abraça a Música Definitivamente

Em 1966 são feitos documentários sobre o poeta pelas televisões americana, alemã, italiana e francesa, sendo que os dois últimos realizados pelos diretores Gianni Amico e Pierre Kast. Aparece seu livro de crônicas Para uma menina com uma flor pela Editora do Autor. Seu Samba da bênção, de parceria com Baden Powell, é incluída, em versão de compositor e ator Pierre Barouh, no filme Un homme, une femme, vencedor do Festival de Cannes do mesmo ano. Participa do jurí do mesmo festival. Em 1967 aparecem, pela Editora Sabiá, a 6ª edição de sua Antologia poética e a 2ª do seu Livro de sonetos (aumentada). É posto à disposição do governo de Minas Gerais no sentido de estudar a realização anual de um Festival de Arte em Ouro Preto, cidade à qual faz freqüentes viagens. Faz parte do jurí do Festival de Música Jovem, na Bahia. Estréia do filme Garota de Ipanema. Em 1968 falece sua mãe no dia 25 de fevereiro. Aparece a primeira edição de sua Obra poética, pela Companhia José Aguilar Editora. Poemas traduzidos para o italiano por Ungaretti. Em 1969 é exonerado do Itamaraty. Casa-se com Cristina Gurjão.

Parceria de Sucesso com Toquinho

Em 1970 casa-se com a atriz baiana Gesse Gessy. Nasce Maria, sua quarta filha. Início da parceria com Toquinho. Em 1971 muda-se para a Bahia e viaja para a Itália. Em 1972 retorna à Itália com Toquinho onde gravam o LP Per vivere un grande amore. Em 1973 publica A Pablo Neruda. Em 1974 trabalha no roteiro, não concretizado, do filme Polichinelo. Em 1975 excursiona pela Europa. Grava, com Toquinho, dois discos na Itália. Em 1976 escreve as letras de Deus lhe pague, em parceria com Edu Lobo. Casa-se com Marta Rodrigues Santamaria. Em 1977 grava um LP em Paris, com Toquinho e participa do famoso Show com: Tom, Toquinho e Miúcha, no Canecão. Em 1978 excursiona pela Europa com Toquinho. Casa-se com Gilda de Queirós Mattoso, que conhecera em Paris. Em 1979 leitura de poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, a convite do líder sindical Luís Inácio da Silva. Voltando de viagem à Europa, sofre um derrame cerebral no avião. Perdem-se, na ocasião, os originais de Roteiro lírico e sentimental da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Em 1980 é operado a 17 de abril, para a instalação de um dreno cerebral. Morre, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa, na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher. Extraviam-se os originais de seu livro O dever e o haver.

Obras do Autor


Poesias
Forma e Exegese (1935)

Ariana, a Mulher (1936)

Novos Poemas (1938)

Cinco Elegias (1943)

Poemas, Sonetos e Baladas (1946)

Pátria Minha (1949)

Antologia Poética (1955)

Livro de Sonetos (1957)

Novos Poemas II (1959)

Cordélia e o Peregrino (1965)

Para Viver um Grande Amor (1962)

Crônicas
Para uma Menina com uma Flor (1966)

Teatro
Orfeu da Conceição (1962)


Nasce, em meio a forte temporal, na madrugada de 19 de outubro de 1913, no antigo nº 114 (casa já demolida) da rua Lopes Quintas, na Gávea, ao lado da chácara de seu avô materno, Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz. São seus pais d. Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, este, sobrinho do poeta, cronista e folclorista Mello Moraes Filho e neto do historiador Alexandre José de Mello Moraes.
Morre, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa, na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher.

Texto extraído do site: www.vinicius demoraes.com.br e do livro: A Literatura Brasileira Através dos Textos, Massaud Moisés, Editora Cultrix, 1971.

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