terça-feira, 9 de março de 2010

Jorge Luis Borges e a ética

Gostaria de escrever um comentário sobre este trecho que cito do livro Sobre A Filosofia e Outros Diálogos, uma deliciosa coleção de conversas entre Jorge Luis Borges e o jornalista Osvaldo Ferrari. Mas creio que ele é suficiente. Primeiro a pergunta, em itálico, e depois, como costuma ser, a resposta:

O senhor sempre nos fala da ética, e até me disse que considera que ter uma ética é mais importante ainda – como também acreditava Kant – do que possuir uma religião.

Bem… a religião somente se justifica em função da ética. Por outro lado, como disse Stevenson, a ética é um instinto, ou seja, não é necessário definir a ética; a ética não são os Dez Mandamentos, a ética é algo que sentimos cada vez que agimos. E, no final do dia, sem dúvida teremos tomado muitas decisões éticas, e teremos tido que escolher… simplificando o tema – entre o bem e o mal.

E quando escolhemos o bem, sabemos que escolhemos o bem; quando escolhemos o mal também sabemos. O importante é julgar cada ato em si mesmo, não pelas suas consequências, já que as consequências de todo ato são infinitas, se ramificam no futuro e, a longo prazo, se equivalem e se complementam. De modo que julgar um ato pelas suas consequências é imoral, eu acho.

A conversa continua:

Penso que uma pessoa culta tem que ser ética. Por exemplo, costuma-se pensar que os bons são bobos, e que os malvados são inteligentes, e eu acho que não, eu acho que de fato, é ao contrário.

Geralmente, as pessoas más são ingênuas também: uma pessoa atua mal porque não imagina o que a sua conduta pode produzir na consciência dos outros. De modo que eu penso que, na verdade, existe inocência na maldade e inteligência na bondade. Além disso, a bondade, para ser perfeita – creio que ninguém chega a uma bondade perfeita – tem que ser inteligente. Por exemplo, uma pessoa boa, e não muito inteligente, pode dizer coisas desagradáveis para os outros, porque não se dá conta de que são desagradáveis. Por outro lado, para ser boa, uma pessoa tem que ser inteligente, porque, caso contrário, sua bondade será… imperfeita, por dizer coisas incômodas para os outros sem se dar conta.

Leve em conta que a discussão do tema é simplificada para termos como bom e mau por conta do curto tempo reservado à conversa na rádio. Nunca é demais lembrar que a ética nem sempre tem a ver com o que uma sociedade e um tempo consideram bom ou mau. Por outro lado, Borges era um escritor que dizia as coisas da maneira simples.

http://livroseafins.com/jorge-luis-borges-e-a-etica/

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