quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ilustre desconhecido

 

Agência FAPESP 

Por Alex Sander Alcântara

Ilustre desconhecido

Livro mostra atuação do príncipe Luís de Orléans e Bragança na tentativa de restaurar monarquia nas primeiras décadas da República (divulgação)

Após a Proclamação da República e queda da monarquia, grandes transformações atingiram a família imperial brasileira, que perdeu o poder político e foi obrigada por decreto a sair do país, passando a residir na França.

Mas pouco se soube da vida e da atuação política da família imperial fora do Brasil. Muito menos se conhece a atuação de seus membros na tentativa de restaurar o período monárquico no país, que marcaria as primeiras décadas da República.

Nesse aspecto, Dom Luís de Orléans e Bragança (1878-1920), segundo filho da Princesa Isabel e de Gastão d’Orléans (conde d’Eu), ocupa um lugar de destaque. Em decorrência da renúncia de seu irmão mais velho, D. Pedro de Alcântara, Dom Luís assumiu a posição de príncipe imperial e se manifestou publicamente no Brasil, ao longo de vários anos, em favor da restauração do trono.

A vida e a atuação política desse personagem – que viveu no Brasil até os 11 anos de idade – ocupam o cenário narrativo do livro Dom Luís de Orléans e Bragança: peregrino de impérios, de Teresa Malatian.

De acordo com a autora, o foco do estudo no biografado se consolidou a partir de suas pesquisas paralelas, sobretudo porque o príncipe teve participação política significativa no decorrer da Primeira República.

Sua participação não se limitou apenas a confrontar o banimento da família imperial, mas também porque tinha uma proposta política de crítica à Republica, que não era uma mera reprodução do império do seu avô, D. Pedro II”, disse Teresa, professora da Universidade Estadual Paulista, campus de Franca, à Agência FAPESP .

O livro recebeu apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações e é resultado da pesquisa “D. Luís de Orléans e Bragança (1878-1920)", concluída em 2009 e que recebeu apoio da Fundação na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.

Segundo a historiadora, o príncipe avança em suas propostas ao fazer uma defesa da Federação com abertura para se perceber o movimento operário no Brasil. “Ele abre um pensamento para atualidade brasileira mais voltada para o processo de industrialização, enquanto outros movimentos estavam mais preocupados ainda com a abolição”, destacou.

A crítica à República está contida em dois manifestos, publicados em 1909 e 1913, nos quais D. Luís aborda tanto as excelências como a representação e forma de governo no Império. O manifesto de 1913 é a última participação política de peso do príncipe, quando conseguiu arrebanhar diversos seguidores.

De acordo com Teresa, o príncipe não defendia o poder moderador, mas acreditava que os poderes Legislativo e Judiciário funcionavam melhor no Império do que na República, porque neste regime o controle ficava nas mãos dos representantes das oligarquias.

Essa crítica encontra ressonância na que era feita à República Velha pelos próprios republicanos. Quando propôs a restauração, D. Luís reconheceu que o imperador havia sido excessivamente ‘liberal’ ao permitir, por exemplo, o crescimento do Partido Republicano. Por outro lado, defendeu que os militares deveriam ter um papel muito mais importante quando comparado à atuação de D. Pedro II”, disse.

Peregrino de impérios

O livro é divido em 12 capítulos, acompanhado de um caderno de imagens, e narra a formação educacional e militar, casamento e trajetória do príncipe como viajante de quatro continentes. “O subtítulo ‘Peregrino de impérios’ se refere tanto aos lugares por onde passou como ao desejo de retornar ao Brasil, tentativa frustrada em 1907”, explicou.

Apesar de não ser um pensador no sentido restrito, D. Luís teve uma trajetória intelectual relevante não somente como ativista político. Publicou livros de viagens, foi repórter de guerra na África e fotógrafo. Seu livro mais importante é Sobre o Cruzeiro do Sul.

Nesse livro, que foi publicado originalmente em francês, ele explicou sua plataforma política. Suas atividades intelectuais o levaram a ser aceito no Instituto Geográfico do Brasil e a pertencer à Sociedade de Geografia de Paris. Mas não conseguiu entrar para a Academia Brasileira de Letras devido ao antagonismo político com Ruy Barbosa, então presidente da academia”, disse.

De acordo com a docente da Unesp, D. Luís tinha uma preocupação muito comum naquele época, que era a de mostrar na literatura de viagem as ‘terras exóticas’ da África aos europeus.

O príncipe morreu aos 42 anos, antes da Primeira Guerra Mundial. “Depois disso, apesar de persistir mais no plano teórico, o movimento monarquista ficou órfão porque seus filhos ainda eram menores de idade. O objetivo do livro é mostrar que ele não foi um personagem secundário nesse processo”, disse Teresa. 

  • Título: Dom Luís de Orléans e Bragança: peregrino de impérios
    Autora: Teresa Malatian
    Páginas: 270
    Preço: R$ 55
    Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br

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